domingo, 30 de setembro de 2007

(ESPECIAL) Augusto Cury


O nosso Daniel Goleman (credo!)


Augusto Cury é médico psiquiatra com pós-graduação em Psicologia Social (área da psicologia que estuda como processos grupais interferem em processos psicológicos e vice-versa). Montou um Instituto chamado “Academia da Inteligência” onde oferece cursos (bem pagos, diga-se de passagem!) para terapeutas e afins. O cara é mesmo um empresário de mão cheia: também escreveu inúmeros livros de auto-ajuda e continua produzindo.

Em quase todos esses livros há uma pequena referência sobre o autor na orelha traseira do livro que fala sobre duas coisas importantes em sua obra:

1) o fato de seu pensamento ser inspirado em Freud, Piaget, Vygotsky, Paulo Freire, Wallon, Winnicott, etc, etc, etc (muitos, muitos autores mesmo). Querendo dizer que ele é estudado.. sei, sei..

2) e sua “obra-prima” ser o bestseller Inteligência Multifocal”, onde ofereceria uma teoria revolucionária para a “mente” humana, muito boa para o mundo materialista e fútil que vivemos (segundo propaganda própria).

Pois bem... Não vou falar de TODOS os livros de Augusto Cury por uma razão óbvia: porque se fosse não teria mais tempo hábil para escrever mais sobre nenhum outro autor de auto-ajuda!

O cara deve ter escrito milhares: “Nunca desista de seus sonhos”, “Pais brilhantes, professores fascinantes”, “Você é insubstituível”, “Dez leis para ser feliz”, “Maria, a maior educadora da história”, “O futuro da humanidade”, etc.

OBS1: Os livros custam todos entre 25$ e 15$, alguns saem por 9$90.

OBS2: Notaram como alguns títulos revelam que foram “inspirados” em modismos da época de seus lançamentos? Por exemplo, “Pais brilhantes, professores fascinantes” foi na onda de “Pai Rico Pai Pobre”, de Robert Kyiosaki (Até a capa dos livros é parecida!).

Ao invés de falar de todos os livros de Augusto Cury farei o seguinte como estratégia alternativa: comentarei os dois pontos supra-citados nas orelhas de seus livros (seu referencial teórico e sua obra-prima).

O referencial de Augusto Cury: de Freud a Bob Esponja

Para começo de conversa, caro leitor, quando alguém diz que baseia sua obra em mil teóricos tão diversos, de tamanha distância teórico-metodológica, isso não é sinal de um saudável ecletismo mas sim de uma indefinição fundamental. (Miscelânias podem ser atraentes em lojas de R$ 1,99 e outros cacarecos, mas só geram confusão em livros técnico-científicos!).

Não dá pra sair misturando partes iguais de Piaget e Vygotsky (que divergem em muitos pontos fundamentais) com pitadinhas de Paulo Freire, um caldo de Freud e um tempero Psicossocial e Neurocognitivo (ufa! quanta coisa!) e esperar que saia disso um banquete. Antes é mais fácil sair um prato indigesto porque confuso. Essa falta de compromisso com alguma matriz de pensamento também pode ser vista como tática para pular de galho em galho, ao sabor de modismos.

A “obra-prima” de Augusto Cury

Querem ver do que estou falando? Peguemos a “obra-prima” de Augusto Cury: “Inteligência Multifocal”, de 1999. Em diversos aspectos é um livro que lembra muito (mas muito MESMO) outro bestseller de auto-ajuda: “Inteligência Emocional”, de Daniel Goleman (vejam só, que foi lançado em 1995, portanto QUATRO ANOS ANTES!).

A semelhança está no fato de que Cury defende que a inteligência humana vai além de questões lógico-matemáticas e está muito mais em competências como “ser solidário”, “amar a vida”, “pensar antes de agir”, “colaborar”, “saber lidar com perdas”, etc. Em suma, todos aspectos dos quais Goleman fala em “Inteligência Emocional”.

Contudo a diferença (mínima) está no fato de que Cury procura enfatizar a dimensão psicossocial (pessoas em grupos, tema de sua pós-graduação, lembram?) enquanto Goleman enfatiza o indivíduo (como bom norte-americano que é).

Penso ser esse o segredo de Augusto Cury para ser bestseller: um discurso mutável porque eclético em fontes e capaz de abocanhar temas da moda e escrever rapidamente um livro que custe 15$ a respeito. Com uma linguagem simples, livros baratos e sempre sobre um assunto “do momento” ele promete revelar aos leitores segredos da “Inteligência Multifocal” que lhes farão ser mais felizes.

É um sucesso... DE VENDAS!

Em suma, Augusto Cury é mesmo um empreendedor notável da auto-ajuda brasileira, uma fábrica de bestsellers que merece ser estudada (enquanto empresário, mas não enquanto autor).


PS: vale a pena ler esta matéria da Veja sobre Augusto Cury, que chegou a mim por cortesia do Adriano Facioli, querido leitor do meu Blog

http://veja.abril.com.br/110106/p_106.html



sábado, 22 de setembro de 2007

O Gerente Minuto

Você lê em 1 minuto!


Não estou brincando não. Li esse livro em 1 minuto em um sebo!

Duvida? Então abra na página 107. Tem uma diagrama que diz mais ou menos assim:

1) Negocie objetivos com seus gerenciados democraticamente

2) Quando estiverem indo OK com os objetivos, parabenize em público

3) Quando não estiverem indo OK com os objetivos, repreenda em particular, mas em seguida sorria e aperte sua mão.

E acabou. Isso é o livro.

Isso e uma explicaçãozinho sobre o título (presente na Introdução) que diz que o bom gerente é o que gasta no mínimo 1 minuto por dia para observar o semblante dos gerenciados afim de captar o estado de ânimo deles.

"O Gerente Minuto" é tão superficial que rende este que é o post mais curto deste Blog.


sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Tipologia de livros de auto-ajuda

Neste post especial vou expor uma tipologia de livros de auto-ajuda que criei.

Entendo que todos que lêem esses livros procuram ajuda para mudar algo em suas vidas. Por isso os dois critérios de avaliação tipológica desses livros são justamente esses:

a) proposta de ajuda

b) tática para mudança

Pelo critério a), a auto-ajuda varia em um gradiente que vai de "Instrução" a "Cura". (Alguns livros prometem como ajuda algumas instruções para a a vida, enquanto outros prometem curar doenças e afins).

No pólo "instrução" temos os livros que são os "Dicas de Mestre" sobre assuntos gerais. Por exemplo, "Talento para Vencer", de Jack Welch, que fala genericamente sobre liderança nas organizações. Um terceiro tipo de livros de auto-ajuda de instrução são os "Manuais de Intrução". Eles parecem os "dicas de mestre", com a diferença de que o autor não é um mestre, isto é, uma sumidade reconhecida e em geral o tema é específico. Ex: "Pai Rico Pai Pobre", do antes desconhecido Robert Kyiosaki, sobre educação financeira para crianças.
Ainda como "instrução" ponho livros que costumam ser classificados como "Vida Prática", isto é, aqueles que te ensinam algum ofício ou hobby ("Como Tricotar", por exemplo).

Já no pólo "cura" temos no extremos os "Panacéias", isto é, os livros que prometem curar todos os problemas. Ex: "Você pode curar sua vida", de Lousie Hay. Afunilando, também temos os livros "Terapêuticos", que prometem curar problemas específicos, como "Superando a Dislexia", ou algo assim.

Pelo critério b), esses livros variam entre "mudar o mundo e você muda em seguida" a "mude você e o mundo muda depois". Ou seja, de lado os livros que dizem que a mudança ocorre de dentro pra fora e de outro os que dizem que ela ocorre de fora para dentro.

Alguns livros de auto-ajuda pregam que a mudança se dará pelos sentimentos e pela "interioridade" do leitor. Todos os de Programação Neuro-Lingüística se enquadram nesse tipo. Já outros dizem que importante mesmo é aprender novos hábitos, novas rotinas de vida, a mudar seu contexto. Por exemplo, "Pai Rico Pai Pobre", que ensina competências financeiras.

O gráfico a seguir é uma síntese de minha tipologia :



Assim, por exemplo, "Pai Rico Pai Pobre" estaria situado nesse gráfico perto de "Ajuda com Instrução" (pois se propõe a ensinar competências) e "Mudar de fora para dentro" (porque diz que a solução está em aprender hábitos e mudar seu mundo particular). Já "Você pode curar sua vida" estaria numa posição radicalmente oposta: perto de "ajuda com cura" e "mudança de dentro para fora".

OBS: em geral, os únicos livros de auto-ajuda que podem ser bons estão situados no pólo "Instrução". Ex: "Paixão por Vencer", de Jack Welch (por causa da notoriedade do autor, que torna o livro leitura útil por valor histórico).

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

SuperNanny


Mary Poppins virou auto-ajuda!!!


Será que você já viu o filme da Disney (eca!) “Mary Poppins” (de 1964)? A trama consiste na intervenção miraculosa de uma super-babá com poderes mágicos que muda uma família inglesa desestruturada. Inspirado nesse clássico moderno foi criado o Reality Show “SuperNanny” (não por acaso na Inglaterra), que conta atualmente com uma versão de sucesso no Brasil, estrelado por Cris Poli no papel da babá que, ao contrário de Miss Poppins não usa passes de mágica mas sim técnicas comportamentais (apesar de não assumir).

A palavra-chave da abordagem de Cris Poli, que aliás ela repete diversas vezes ao longo de cada episódio é disciplina. A intervenção da super-babá consiste basicamente em gerar, através de técnicas clonadas da Terapia Comportamental (sem contudo referenciar jamais a fonte!) práticas de rotinas saudáveis na família (como refeições à mesa com todos juntos, diálogo, reconhecimento, etc).

SuperNanny usa técnicas tais como time-out, extinção, imitação de modelos, reforçamento negativo, esquemas intermitentes de reforço, etc. Mas, como eu disse, ela nunca cita Skinner nem nada do gênero. (Interessou-se pelos procedimentos? Vá estudar Análise Experimental do Comportamento porque no show da TV você não vai aprendê-los de verdade!)

Um elogio que tenho que fazer ao show televisivo é esse: ele é um bom divulgador, numa mídia aberta, da Terapia Comportamental. Isto é, ao menos milhares de pessoas passaram a saber que existe algo na Psicologia além da Psicanálise ao ver esse show.

A crítica mais severa que tenho a fazer é a de que o show, até por motivos de lógica televisiva (como ter que aglutinar uma intervenção por episódio de cerca de 40minutos), reduz a intervenção a algo que parece simples. Tal como no filme "Mary Poppins", parece mágica o que Cris Poli faz. Muitas vezes na vida real as intervenções são mais longas, custosas, desafiadoras, frustrantes. Além disso muitos pais que viram Cris Poli agindo na TV podem achar que "é fácil" e sair simplesmente aplicando “tecninhas” sem saber ao certo o que estão fazendo ao invés de procurar ajuda profissional. (Por isso acho que Cris Poli prestaria um grande serviço a sociedade se usasse algum espaço em seu programa para divulgar profissionais que poderiam fazer seu trabalho pelo Brasil).

Fora isso, agora ela inventou de escrever livrecos de auto-ajuda que são como receitas de bolo para pais aflitos de filhos-problema... Com isso ela perdeu pontos no meu conceito!

De um modo geral eu sou a favor de Reality Shows como SuperNanny uma vez que eles divulguem alguma ciência ou técnica (Assim como Pimp My Ride divulga o belo trabalho de engenharia e afins em oficinas mecânicas).

Mas depois de ver um episódio de SuperNanny não se dê por satisfeito: pegue as anotações que você fez ao longo do programa e vá estudar o que ela fez, quais técnicas usou, o que significam ela, no que a observação da “analista” foi boa e no que foi má, quais suas falhas e acertos em termos de resultado, etc.

SuperNanny vale como divulgação e ilustração, mas não como aprendizagem efetiva. Ninguém vai aprender a modificar comportamentos vendo um show de tv.


quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Casais Inteligentes Enriquecem Juntos





Seja financeiramente esperto: não gaste 30$ neste livro






Todos os livros de auto-ajuda financeira dizem mais ou menos as mesmas coisas: “Entenda seu perfil de desejos”, “Seja previdente”, “Não gaste muito”, “Invista o que poupar”, “Trace objetivos”, etc, etc, etc.

Casais Inteligentes...”, do atualmente consultor pop e palestrante motivacional Gustavo Cerbasi, não foge a regra. Ele diz as mesmas coisas, p.e., que “Investimentos - Aprenda a Lidar com Seu Dinheiro” diz (também resenhado neste Blog).A única coisa peculiar nele é que o enfoque no ciclo de vida de um casal padrão (heterossexual, monogâmico e formado de família nuclear).

Ao lado do pacote das obviedades financeiras “Casais Inteligentes...” traz dicas esparsas sobre hábitos que casais de namorados devem ter, depois de recém-casados e assim por diante, seguindo as fases do ciclo vital do casal: quando os filhos nascem, quando os filhos ficam grandes e sem vão, quando o casal fica sozinho na maturidade, etc.

Mas, cá entre nós, as dicas são mesmo ruins. Por exemplo, na parte dedicada a dicas para como o casal lidar com a mesada dos filhos consta apenas duas páginas de um texto superficial, que não responde a quase nada. Para casais de namorado, as dicas são toscas: “Como não gastar muito para comprar um presente para sua namorada”.

Além desses fatos há um outro livro clássico de auto-ajuda, escrito há decadas, chamado “Casais e Dinheiro”, de Victoria Felton-Collins que é muitíssimo mais denso e profundo na temática. Até parece que Gustavo Cerbasi leu “Casais e Dinheiro” e fez uma adaptação superficial para o público brasileiro.

Em suma, vale mais a pena que o casal tenha conversas francas e/ou peçam orientações e dicas para casais mais maduros do que gastar 30$ nesse livro.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

"Investimentos - Como Administrar Melhor Seu Dinheiro"




O que todo mundo esperto já sabia sobre Finanças Pessoais






"Investimentos - Como Administrar melhor seu dinheiro", de Mauro Halfeld, foi um marco da auto-ajuda brasileira. Foi o primeiro bestseller de auto-ajuda financeira nacional. Custa 30$ e não vale a pena ser comprado pois basicamente diz o que todos os outros anteriores já falavam com alguns detalhes peculiares ao Brasil.

Esse livro basicamente seguiu a onde "Pai Rico Pai Pobre" de auto-ajuda financeira. Contudo "Pai Rico..." diz respeito a realidade econômica e jurídica dos EUA. "Investimentos..." veio para falar mais ou menos as mesmas coisas, porém com dicas específicas para brasileiros.

Explicando...

"Seja previdente"

"Comece a investir cedo"

"Reserve 10% de sua renda para investir"

"Descubra seu perfil de interesses e compre ativos apropriados a ele"

"Pense a longo prazo"

"Arrisque de forma inteligente uma porção adequada de seu montante"

"Diversifique investimentos num portfólio heterogêneo"

Ou seja, as mesmas dicas de sempre.

A vantagem é que, por ser nacional, ele dá dicas apropriadas pro Brasil. Por exemplo, sobre investimentos imobiliários levando em conta a legislação nacional.

Mas de um modo geral todas essas dicas podem ser obtidas grátis, na internet, ou conversando por 10 minutos com quem entende.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

(ESPECIAL) Lair Ribeiro


Ao lado de Içami Tiba, Augusto Cury e outros, Lair Ribeiro certamente é um dos maiores aproveitadores nacionais do baixo índice de alfabetização científica no Brasil




Médico cardiologista por formação, chegou a Programação NeuroLingüística (PNL) por acaso, e aproveitou sua habilidade de oratória e o então vácuo editorial da auto-ajuda brasileira sobre o tema e fez carreira. Hoje em dia vive de royalties de seus bestsellers bem como de palestras motivacionais batidíssimas que dá a preços salgados.

Lair Ribieiro na verdade escreveu apenas um livro: "Comunicação Global - O Poder da Influência", em 1993. (Os demais são releituras alteradas desse).


Todos os outros livros dele (e foram inúmeros) são aplicações específicas dos conceitos gerais de "Comunicação Global" a temas em voga. Por exemplo, "Emagreça Comendo" é um "Comunicação Global para emagrecer", enquanto "Como passar no vestibular" é um "Comunicação Global para passar no vestibular". Os temas, claro, foram muito espertamente determinados pelo pessoal de marketing da editora.

"Comunicação Global" é um manual prático de PNL, no melho estilo daquela praticada e popularizada nos EUA em 1960-70.

A PNL parte da idéia fundamental que nossos sentimentos são a causa de nossos comportamentos e que podem ser alterados mediante exercícios de verbalização e imaginação. Assim, p.e., comerei compulsivamente se meus sentimentos de baixa auto-estima me moverem a isso e para curar esse quadro posso imaginar que a comida é algo ruim enquanto repito pra mim mesmo "Não preciso comer", diversas vezes, concentrado.

Em outras palavras, trata-se de um processo pavloviano de condicionamento respondente (associar um estímulo a uma resposta). O objetivo das práticas de PNL é de marcar a ferro e fogo "programas mentais" que automatizem certas respostas tidas como saudáveis a problemas.

Pra começo de conversa quero frizar que ao enfatizar o papel dos sentimentos a PNL descuida de uma análise personalizada do ambiente em que vive o indivíduo. (Nenhuma avaliação criteriosa da pessoa é feita, e ela já vai logo aplicando "tecninhas").

Outra crítica é que os "exercícios mentais" dela precisam ser regularmente repetidos para manutenção dos benefícios obtidos, numa espécie de obsessão que alguns poderiam chamar de "lavagem cerebral".

Fora que ao misturar Pavlov com concepções mentalistas do ser humano a PNL mostra bem que não é nada científica (falta rigor conceitual).

Se funciona?

Respondo assim: se você der uma injeção de dopping em um atleta, ele pode até correr mais rápido naquela prova, mas isso gera um atleta melhor a médio e longo prazo?

Lair Ribeiro parece vender, na verdade, injeções de ânimo de efeito imediato que não alteram de forma duradoura os clientes.

Enfim, recomendo a leitura de Pavlov e Watson (pelo valor histórico) e de Skinner (pelo científico) para quem se interessa por técnicas comportamentais verdadeiramente científicas.