terça-feira, 3 de julho de 2012

Ram Charan - "O Líder Criador de Líderes"



Um colega do trabalho me emprestou esse livro, dizendo que eu ia gostar muito.



"Mas isso não é auto-ajuda?", perguntei.

"Não, é um livro de negócios".


Ok, ok.

Há uma tênue linha entre um gênero e outro, isso é fato. Mas acabei topando ler o livro porque Ran Charan é um consultor famoso hoje em dia, badalado, etc. De fato, ele fala de um conceito que acho muito pertinente, em "Execução": o que não basta planejar estrategicamente, porque é preciso arregaçar as mangas e saber fazer as coisas funcionarem, indo no nível do detalhismo concreto.

Apesar desse mérito de Ran Charan, achei "O Líder Criador de Líderes" muito ruim.
Ram Charan: "Liderança não se aprende.
Apenas se lapida o dom".
Sei, sei...

Em termos de estilo de escrita é um amontoado de histórias supostamente reais que Charan entrou em contato ao longo de décadas de experiência como consultor. Ele fica contando as histórias, e contando, e contando, e você espera o momento de alguma conclusão, algum encaminhamento ou conceito... E em algumas delas até vem isso, mas na maioria, é só a historinha mesmo. 

Fora que nesse livro Charan fala uma coisa que realmente achei péssimo. Ele diz que um líder é uma "pessoa especial", que "nasceu com um dom" e se distingue desde sempre das outras pessoas.  O máximo que podemos fazer, como chefes e gerentes, é identificar essas pessoas que se destacam e lapidá-las. Mas cuidado: cada um nasce com uma carga fixa de liderança, então se a pessoa tem o dom, mas não tem muito, ela será apenas um líder mediano. Não adianta investir muito nela, a não ser que ela tenha muito dom, muito potencial latente, bla, bla, bla.

Quanta besteira!

Charan contraria Peter Drucker, que diz que tanto a gerência quanto a liderança são comportamentos aprendidos, independente de "personalidade" ou qualquer "dom" ou fator internalista. Charan também contraria todo bom cientista comportamental, aliás. 


Numa visão mais científica entende-se que uma pessoa pode até parecer um "líder nato" porque ela "sempre" agiu como líder mas isso não atesta a existência de um dom inato: atesta apenas como nós não conseguimos rastrear os determinantes da liderança corretamente. Daí inferimos que ela tem uma essência interna de líder, com a qual já se nasce.

Por alimentar essa crença acabamos fechando nossos olhos para os determinantes sociais, históricos, e ambientais que, esses sim, formam líderes. 

Na Índia funciona assim: você já nascebom, ou nasce "intocável"

Pode soar preconceito o que vou dizer agora, mas dane-se. Pra mim Charan apenas refletiu um conceito da cultura da Índia, seu país de origem e criação. O conceito de sociedade de castas, onde alguns nascem especiais e são destinados a comandar quem nasceu inferior.

Se você quer estudar algo mais pertinente de Ram Charan, leia "Execução", e esqueça o que ele diz sobre liderança, ok?


sexta-feira, 29 de junho de 2012

Alain de Botton explicando (e superando?) a Auto-Ajuda




"Os filósofos precisam voltar a
escrever para o público geral"
, diz Alain.
Alain de Botton me foi apresentado como um popularizador da Filosofia. 

Por sinal eu conheci ele através de uma série pra TV (que assisti no YouTube), aonde em cada episódio ele apresenta o pensamento de um filósofo (Coloquei um vídeo dessa série no final deste post).

Li duas obras de Alain de Botton: "As Consolações da Filosofia" e "Como Proust pode mudar sua vida". Gostei muito da primeira, aonde o autor fala de diversos filósofos de forma atraente, acessível. A segunda achei meio forçada, pois ele propõe que a literatura de Proust pode salvar as pessoas do desespero existencial (Me parece que ele apenas gosta demais de Proust e fez uma homenagem exagerada).

Quando as pessoas lhe perguntam se ele é um escritor de auto-ajuda, Botton dá uma resposta bem interessante... 


Começa explicando que desde a Antiguidade Clássica os filósofos costumavam escrever manuais práticos sobre questões da vida cotidiana para o público geral. 


Aproveitando um tema em voga hoje em dia,
Botton escreve um livro sobre ateísmo
Diversos pensadores romanos fizeram isso, abordando desde técnicas de oratória até discussões éticas e sobre o amor. Em seguida, muitos filósofos modernos fizeram o mesmo. Mas, destaca Botton, em um determinado ponto da História os filósofos se tornaram preciosistas, técnicos e herméticos demais em suas abordagens. Ao mesmo tempo, fecharam-se no meio acadêmico (a maioria dando aulas em universidades), aparecendo na mídia só de vez em quando, na forma de intelectuais consultados sobre questões da ordem do dia.

A auto-ajuda teria nascido, segundo o autor, do vácuo que os filósofos deixaram no público leitor quando se tornaram acadêmicos demais e pararam de escrever sobre questões do cotidiano, visando o leitor comum. Os autores de auto-ajuda apenas se aproveitaram da carência de um público sedento por conhecimento de qualidade, mas acessível, e inundaram as prateleiras com livros que prometem isso, mas entregam textos ruins, repletos de fórmulas ilusórias para o sucesso.


Claro que o que Botton diz suscita dúvidas:


- Será que isso não é "papo de vendedor"? Ele pode ser apenas mais um escritor de auto-ajuda querendo posar de sabido...


- Será que dá para filósofos e acadêmicos produzirem "pras massas" e manter a qualidade e rigor do conhecimento ?


- A auto-ajuda pode ser "melhorada"? Ou deve ser substituída por livros de divulgação da Filosofia e da Ciência?

Dentre outras questões... Prometo voltar a elas outro dia, porque no futuro certamente falarei mais de Alain de Botton.




Quer saber mais já? 


Leia esta entrevista dele.

Veja também um vídeo em que Botton fala de Nietzsche: