sábado, 13 de março de 2010

Machismo em livros de autoajuda


Dêem  uma boa olhada no título e na capa deste livro de autoajuda:


As meninas meramente normais se casam. As "iradas" conseguem grana (a garota está com várias notas na mão) através de um relacionamento (o coração flutuando entre eles) com um sujeito rico (o homem está de roupa elegante e prestes a dar um anel de brilhantes para ela).

Agora que tal este livro aqui?




Ele parece explorar a clássica fantasia sexual masculina de ir oferecer ajuda para uma mulher lindíssima com problemas com o carro (e fazer sexo selvagem com ela ali mesmo).

Porém notem um detalhe: a mulher está usando vestido de noiva.

A capa insinua uma mensagem: atraia homens especiais ("partidões"), os seduza mas com o objetivo em mente, o de casar com eles.

Esses livros de autoajuda, dentre outros, parecem ter sido feitos para mulheres e possuirem uma única mensagem:

"Sejam espertas e casem bem. Assim vocês não terão problemas materiais".

Ok, ok.

Que será isso? Reconhecimento machista (por parte de mulheres, também!) de que o ser esposa e ex-esposa são profissões?


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ian Mecler



Você sabe o que é a Cabala?


Se você respondeu "Não", tudo bem, pois nem os cabalistas a entendem completamente. 

A grosso modo, podemos dizer que se trata de um livro que compila diversos textos místicos judeus, provenientes, dizem uns, do Egito Antigo, dizem outros, da Europa Medieval.





A popularidade atual da Cabala se deve, em parte, a famosos que aderiram a ela como sistema de autojuda. 

Dentre ele, Madonna (que sempre fala da Cabala em entrevistas).



Trata-se de um manual de magia, numerologia, e outros sortilégios também. Sua matemática é tão complexa que promete desvender os segredos de Deus, bem como deixar louco quem a estude por muitos anos.


Como você pode ver, o assunto é mesmo complexo.


E o que você acha de um brasileiro escrevendo, chamado Ian Mecler, escrevendo livros como este?




Originalmente a Cabala não era parte de uma religião moral, mas de um sistema de magia teológica (entender o poder de Deus, para usá-lo).


É estranho falar da "arte de ser feliz" através de ensinamentos altamente herméticos, do tipo que demandam até estudos avançados de numerologia e de línguas mortas.


Mas Ian Mecler, aparentemente, conseguiu fazer isso.


Ele até foi no Jô Soares para falar disso:







Clique aqui para ver a entrevista.




No mais, não conheço a obra de Mecler a fundo, mas fica aqui meu ceticismo: como transformar um sistema altamente complexo de magia cerimonial em autoajuda para o século XXI?

Não estariam esses "especialistas em Cabala" vendendo apenas misticismo empacotado? Será que alguém pode consertar magicamente sua vida através da Cabala?


quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Comer, rezar e amar



Hoje na padaria, tomando café, li por alto o badalado bestseller "Comer, rezar e amar".


A autora conta sua viagem pela Itália (onde comeu), Índia (onde rezou) e Bali (onde procurou equilibrar o espiritual e o material). Não se trata de uma narrativa em formato de diário, mas de 108 pequenas crônicas e ensaios, sobre os mais variados temas: aspectos culturais de cada país, e tudo que passou com ela nessas viagens.
Até gostei da idéia de Elizabeth Gilbert de contar sua jornada pela autorealização (como ela chama), em um forma literário.

O texto engana, não parecendo autoajuda.

Mas logo fica claro que é, pois o tempo inteiro Elizabeth diz que procura em suas viagens "o equilíbrio". Quando chega na Índia, diz que  precisa urgentemente meditar, para se equilibrar. Em Bali, diz invejar o equilíbrio das pessoas. Ou seja, durante todo o livro a autora pinta a si mesma como uma pessoa desequilibrada.



Há um outro ensaio ou crônica muito bom, como quando ela conta a história do turismo cultura em Bali, ou os episódio que ela narra de feitos de seu xamã balinês, um homem de 105 anos que parecia ter 60 (?).


É aí que o livro comete um erro dos grandes.

Sendo ele um relato de viagens que Elizabeth fez, por que não tem nenhuma foto? Nem cartão postal. Nem sequer datas dos eventos narrados. Ou seja, não há nenhuma prova de que os eventos narrados no livro são reais. Seu xamã de 60-105 anos pode ser apenas um personagem inventado para dar charme a trama!



Fora isso, o livro é carregado de frases piegas sobre religião, onde a autora defende suas idéias da Nova Era. Na parte do livro sobre a Itália, Elizabeth usa o "comer" como desfrutar de prazeres mundanos. Ou seja, para ela, uma boa lasanha em Milão é o máximo dos "prazeres dos sentidos" que uma mulher em busca do tal do "equilíbrio" pode experimentarl...


Ora, ora, ora, Elizabeth...


No mais, o livro já rendeu uma paródia muito engraçada, cujo humor está em pegar o roteiro espiritual e pudico de viagens de Elizabeth  e transpor pro universo masculino, materialista e lúdico.

Trata-se do engraçado "Beber, jogar e foder", onde o autor conta sua jornada em busca de prazer imediato pela Alemanha (onde bebeu cerveja), por Las Vegas (onde jogou em cassinos) e pela Tailândia (onde viveu em puteiros).


Comparem as capas dos dois livros:







Enfim, alguém resolveu fazer piadas 
com a autoajuda, além de mim!

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Matéria de capa da revista Veja

Eu estava numa padaria, tomando café-da-manhã, e não é que estava sobre a mesa, disponível para folhear, uma edição antiga de Veja cuja reportagem de capa era sobre autoajuda?


Não resisti e peguei para ler. A matéria tem dois méritos: 1) uma boa análise histórica explicando as condições que tornaram possível o surgimento da indústria da autoajuda e 2) os nomes dos principais bestesellers e clássicos da indústria no Brasil.


Este post é sobre o item 1.


Segundo a reportagem, as contingências históricas que explicam o surgimento da autoajuda são:


a) as pessoas foram vivendo com cada vez menos religião, sem consultar líderes espirituais cara-a-cara, como um padre ou pastor. Ao invés disso, foram lendo por conta própria livros de autoajuda, ou mesmo a Bíblia como sendo um livro desse gênero


b) mulheres passaram a trabalhar fora de casa, eliminando a figura da "comadre". Isto é, ao invés das mulheres conversarem umas com as outras sobre questões da vida, passaram a ler livros de autoajuda para obter algum tipo de apoio


c) famílias foram se tornando menores e mononucleares (pais e filhos), eliminando a figura do vovô e da vovó sábios que nos dão conselhos


d) a anomia que as pessoas experimentam nos populosos mas solitários centros urbanos


e) o aumento do número de divórcios, gerando mais e mais problemas familiares


f) vida moderna agitada e competitiva, demandando mais e mais por "instruções para o sucesso pessoal".


Boa análise. Não completa, mas um ótimo ponto-de-partida para a compreensão socio-histórica da autoajuda.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Lousie Hay - "Se eu consegui, você também consegue"



Lousie Hay, norte-americana, é uma bem-sucedida autora de bestsellers de autoajuda.



Ela teve câncer, se dedicou numa jornada de cura médica e terapias alternativas (com Yoga, principalmente) e zaz!, curou-se. Lousie passou a explorar sua própria experiência com a cura do câncer em seus livros, tomando-se como exemplo.

Não nego que exista algo de muito bonito nessa atitude, no sentido de encorajar pessoas que estão sofrendo a seguir um modelo de sucesso. O problema é a tônica dessa mensagem no livros de Lousie Hay. A autora dá a entender que tudo é uma questão de pensamento positivo, que a pessoa só precisa ter a disposição correta e milagres irão acontecer!

Ok, Lousie, a sua doença foi superada. Fico feliz por você. Porém há uma certa taxa natural de remissão de câncer, até mesmo em estados avançados. Mas nem todas as pessoas são contempladas por essa loteria biológica.



Lembro das multidões que rezam pedindo a cura do câncer. Vez por outra uma pessoa consegue, e todos os holofotes são focados nela. Curiosamente, o número desses felizardos normalmente bate com as taxas de remissão espontânea (fenômeno natural), mas isso não desanima os que rezam por milagres. 


Lousie Hay também nos faz lembrar que a autoajuda é uma cria da cultura norte-americana. Nos EUA, o correto é seguir pessoas que foram bem-sucedidas em suas vidas pessoais. Só se vota em políticos que foram "homens e mulheres de sucesso" antes da política (Ótimo hábito!). Mas, da mesma forma, se compra livros de auto-ajuda de pessoas que antes de entrarem nesse ramo literário, tinham um histórico de sucesso e transformação pessoal.


Este post foi sobre uma das maiores crueldades veladas da autoajuda: a de vender a idéia de "Se eu fiz, você também faz, basta querer". Ora, cada caso é um caso, não?