sábado, 13 de outubro de 2007

"A Profecia Celestina"

Lucrou milhões! E não foi por coincidência...


"A Profecia Celestina"
é um romance, uma narrativa ficcional onde o autor conta a experiência de desabrochar espiritual de um homem comum dos EUA numa viagem mágica pelo Peru.Trata-se de uma saga pessoal em busca da espiritualização. A jornada ocorre quando ele tem acesso a um misterioso pergaminho peruano (encontrando "por coincidência").

Aliás, o tema central do livro é
perceber e interpretar coincidências como sinais mágicos do Universo. A narrativa segue um esquema que é uma seqüência de "Visões". Cada visão é uma regra que explica, com cada vez mais profundidade, como as estranhas coincidências são sinais do Universo para revelar profundos segredos.

Assim, por exemplo, a primeira visão diz que
"Ao nos conscientizarmos da coincidência estamos nos sintonizando com o mistério do princípio fundamental da ordem no universo". A segunda diz que a percepção dessas coincidências pode mudar sua vida. A terceira diz que o Universo é energia e estamos co-criando ele com nossos pensamentos e por isso as coincidências são formas de darmos dicas a nós mesmos do que devemos fazer. E por aí vai. São ao todo nove visões.

Ok, já que o aparentemente mágico mecanismo das coincidências é a chave de compreensão de "A Profecia Celestina", falemos então de
como funcionam a percepção de coincidências.

Lembro de que quando tive meu braço engessado há dois anos eu andava na rua e via diversas pessoas de braços engessados, como nunca tinha visto antes. Será que a quantidade de pessoas de braços engessados aumentou depois que eu engessei o meu? Caso sim, teria sido uma imensa coincidência (provavelmente um
sinal cósmico, segundo "A Profecia Celestina"). Mas o que aconteceu foi simplesmente que eu passei a prestar mais atenção a variável "braço engessado" por eu estar passando por essa experiência. A quantidade de pessoas com gesso no braço provavelmente não havia sofrido alterações significativas (a não ser que um louco na cidade houvesse passado a semana quebrando braço de gente), mas minha percepção havia mudado por conta de minha experiência.

O que "A Profecia Celestina" ensina é a treinar sua percepção para
desencavar ou fabricar coincidências através de associações elaboradas. Assim o leitor que acredite no conteúdo desse livro passará a ver em tudo os tais sinais do Universo, o que parece ser excitante, e até uma tremenda injeção de ânimo e auto-estima em quem está passando por maus bocados.

Em suma, o livro condiciona os leitores a verem coincidências em virtualmente tudo. E quem procura coincidências por toda parte, certamente as achará, mesmo que não existam...


sábado, 6 de outubro de 2007

Um Imposturômetro para Auto-Ajuda



Se você não leu "Imposturas Intelectuais" sugiro que leia. Foi dessa obra majestosa que veio a idéia deste post!





Note, caro leitor: é a primeira vez que eu recomendo um livro neste Blog!!!!!

Alan Sokal e Jean Bricmont, "Imposturas intelectuais". Rio de Janeiro: Record, 1999
.





Tive a idéia de criar um "imposturômetro". Isto é, uma forma de medir a quantidade de imposturas intelectuis que um livro de auto-ajuda profere.

Entendo que dentro os livros desse gênero todos são ruins, mas há alguns que são piores. Pois é.. Como saber quais os campeões de bobagens? Como precisar quem é o autor mais impostor? Como estabelecer uma escala de poder de intoxicação desses livros?

Este post tenta dar uma solução a tudo isso com um checklist bem simples.

Escolha um livro de auto-ajuda X. Sobre ele, para cada uma das perguntas seguintes, responda com "sim" ou "não". Para cada "Sim" marque 1 ponto.

Ok?

Vamos lá.

Sobre o autor

1) O autor se auto-elogia? (Um auto-elogio pode ser camuflado em depoimentos de amigos famosos ou citações repetidas de títulos acadêmicos e sucessos de vendas, portanto, cuidado com a sutileza deste ponto!)

OBS: Se em algum trecho ele se sugere que é um gênio ou "mago" ou se arrola ao lado de Da Vinci e Freud, então marque 3 pontos ao invés de 1.


2) Ele sugere que descobriu algo fantástico e estonteante e que está te fazendo um favor incomensurável em te revelar isso ?

OBS: Se em algum momento ele diz que suas descobertas vão revolucionar a Ciência e/ou o Mundo caso aplicadas, então marque 3 pontos ao invés de 1.


Sobre o livro


3) Ele promete cura garantida para o problema de que trata, caso seguidas as instruções, ou sugere que a resolução é "como mágica"?

OBS: Se o livro deixa entendido que é um método para resolução de QUALQUER problema então ele pontua 3 pontos.


4) Diz que o processo de superação dos problemas é fácil e simples, e qualquer um pode fazer sem muito esforço?

OBS: Se o livro insiste que essa "mágica" não precisa ser entendida, que é algo misterioso mesmo que você precisa apenas aceitar, então marque 2 pontos ao invés de 1.


5) O livro tem bibliografia? Caso não, marque 2 pontos.

6) O livro foi escrito em uma prosa "homeopática"? (Cheia de resumex, estilo prosaico, frases de efeito, historinhas para ilustrar, e com poucos conceitos densos?) Caso sim, marque 1 ponto.

7) O livro enfatiza o papel do leitor como solucionador de si mesmo? Em outras palavras, diz coisas como "Tudo depende de você. Apenas de você"

Ok, ok.

Agora você sabe medir o quão impostor um livro de auto-ajuda é, porque você aprendeu a usar a super, mega, ultra "Escala AVR de impostura em auto-ajuda" (Onde AVR é a sigla de Alessandro Vieira dos Reis). Em breve, numa banca perto de você, por apenas 14$99.

Ela vai de 0 a 15, onde "0" significa que o livro não é auto-ajuda e 15 que ele é realmente muuuuuito ruim.

Eis aí alguns exemplos feitos por mim:

"Quem somos nós" - 9 pontos

Esse é mesmo muito ruim, especialmente a parte do "cura tudo e fácil".

"Inteligência Emocional" - 4 pontos.

É auto-ajuda, mas beeeem camuflado de livro científico, por isso pontuou pouco. Tanto é que engana até psicólogos experientes por aí.

"O Monge e o Executivo" - 6 pontos.

6 pontinhos.. bem na média.. um livro de auto-ajuda padrão.

"O Segredo" - 15 pontos !!!!!!!!!

Esse é um caso paradigmático que merece ser estudado a fundo pelos auto-ajudólogos (ramo da Psicologia que acabo de inventar que se destina a desintoxicar as pessoas quem lêem livros de auto-ajuda).