sexta-feira, 30 de novembro de 2007

"Quem mexeu no meu queijo?"

Uma das coisas mais bobinhas que eu já li...


Como esse é um bestseller muito citado, tive que ler para denunciá-lo para vocês, caros leitores. Mas não comprei: peguei um exemplar na BU-UFSC e mandei ver. Não digo que li porque livros assim não são lidos, mas apenas folheados.

Ok, ok.. eu já fui esperando uma bomba, pois o autor, Spencer Johnson, também escreveu "O Gerente-Minuto" (já postei sobre neste Blog. Procure nos posts de setembro)

A começar pelo formato... Letras imensas, páginas com apenas uma frase, vastos espaços em branco. Tudo feito para fisgar quem não está habituado a ler. Detalhe bizarro sobre o texto: a palavra "queijo" se repetia quase 5 vezes por página, numa verdadeira "lavagem cerebral" que mais irritava que qualquer outra coisa.

Já o conteúdo... Alguns amigos se reencontram depois de anos sem se ver e notam como as coisas mudaram. Um deles conta uma parábola sobre mudanças, para amenizar o clima. A historinha de dois ratos e dois homens em um labirinto, procurando um queijo que muda de lugar. Os dois ratos são as nossas "partes simples", instintivas, que fazem as coisas de forma tranquila. Os dois homens são nossas "partes complexas", i.e., emoções, pensamentos e outras coisas que tendem a tornar tudo mais complicado que é. O queijo é o objetivo da vida (qualquer um) e o labirinto é a vida repleta de obstáculos, imprevistos e afins, como ela de fato é.

Moral da história: mudanças são coisas simples e fazem parte da vida, encare-as com naturalidade e aprenda a se adaptar.

Então
esse é o tão falado "Quem mexeu no meu queijo?". Que coisa bobinha! Quando eu li não pude deixar de me sentir tratado pelo autor como se eu tivesse cinco anos. Não é a toa que saiu uma versão "for kids" (como se a primeira já não fosse!).






"Quem mexeu no meu queijo? (Para Crianças)": um pleonasmo?

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Por que CEOs dão ouvidos a auto-ajuda?

Sempre que um grande figurão do mundo corporocrático é perguntado sobre o que está lendo ele responde com algum bestseller da vez, em geral escrito por um guru empresarial ou afim e que fala de formas inovadoras de gerir negócios. Já notaram isso?

É impressionante como homens e mulhere inteligentíssimos, que lidam com negócios às vezes de bilhões de US$ dão ouvidos a qualquer cascateiro que consegue emplacar um bestseller!

Esse fato me fez deduzir uma coisa: os grandes homens de negócio tem fraca formação filosófica e científica, por isso acham que precisam ler esses manuais "mastigadinhos" onde um guru dá fórmulas para quem não tem tempo ou interesses de parar para pensar. Uma outra forma de se proteger da auto-ajuda: filosofe por conta própria e questione as idéias da moda. Afinal, elas podem estar erradas ou serem pura redundância, mais-do-mesmo já batido.

Dessa cadeia de eventos acabei deduzindo que a melhor forma de estar acima da auto-ajuda, não precisando dela senão para conhecer as palavrinhas da moda, é ler os clássicos. Sim, porque os conceitos já estão todos lá, nos clássicos. O conteúdo deles só é "adaptado" e ganha nomenclatura diferente.

Talvez um dia os ocupados business men deixem de consumir a filosofia barata que é a auto-ajuda e contratem um preceptor para ensinar-lhes a filosofar com qualidade por conta própria.

Se não for um preceptor, quem sabe um "coach"...

Iniciativas como "A Casa do Saber" (onde gente rica vai aprender em grupo temas filosóficos) pode ser um bom sinal apontando pro fato de que os poderosos querem ficar mais sábios, também.

Qualquer coisa que diminua a influência da auto-ajuda soa bem!

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

(Especial) Fritjof Capra

Ele é anti-capitalismo, mas é o consultor empresarial mais bem pago da Europa...




Você pode estar se perguntando: "Um momento.. Fritjof Capra escreve auto-ajuda?"

Defendo que sim. E de um tipo bem pernicioso: que faz uso de Ecologia e Religião.

A obra de Capra é um misto de Fìsica Teórica, Ecologia e Misticismo. Desse pacote ele extrai receitas para tudo: como curar o mundo, como melhorar a política, como otimizar a economia, como salvar uma empresa, etc.

Fritjof Capra é Físico Teórico mas ganhou a vida como consultor empresarial e escritor de bestsellers.

O primeiro mais famoso foi "O Tao da Física", onde ele defende que a Física Quântica e a Filosofia Oriental falam das mesmas coisas. Esse livro foi escrito logo depois de Capra conseguir sair vivo dos anos 1970, onde assume que abusou de todo tipo de substâncias.

Em seguida veio "O Ponto de Mutação", onde ele é mais prático e demonstra como a Política e a Economia devem se adequar a uma visão ecológica e mística. Esse livro rendeu um modorrento filme homônimo.

Em "Sabedoria Incomum" ele dialoga sobre Fé e Religião com representantes de diversas crenças, para concluir que a Ciência do século XXI apontará para o misticismo oriental.

O livro mais importante conceitualmente dele é "A Teia da Vida", na qual ele diz finalmente ao que veio. Sua teoria fundamental é que as coisas são sistemas vivos, e como tal têm quatro propriedades fundamentais:

1) Estrutura delimitada por uma membrana seletiva

2) Fluxo de matéria e informação que mantém a estrutura se renovando ciclicamente

3) Sistema de tomada de decisões que permite uma seletividade em relação ao meio

4) Um propósito, significado de existência no meio ambiente, interligado a outros sistemas vivos.


Esses 4 pontos são o núcleo da "Ecologia Profunda" de Capra (visão de homem e de mundo que ele defende).

Em seus livros, muito consultados por grandes empresários, ele defende que a empresa deve ser vista como um sistema vivo nesses quatro termos. Da mesma forma, ele também defende que a Sociedade é um sistema vivo, e por aí vai.

Mais recentemente Capra lançou "Alfabetização Ecológica", que não passa de um aprofundamento desse modelo quaternário de sistema vivo.

Apesar de ir contra o capitalismo, ele não se incomoda nada em cobrar até 100.000US$ por palestra de 1 hora, e ser o consultor empresarial mais bem pago da Europa há quase 15 anos.

Importante: Capra não é um cientista. Ele é um divulgador de saberes científicos (mesclados com saberes religiosos, filosóficos particulares, etc) no formato de auto-ajuda.


Se alguém me pergunta quem é Capra, eu resumo assim: "É um Físico Teórico que não obteve sucesso em sua profissão e foi esperto, se tornando um autor de bestsellers de auto-ajuda empresarial".

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

"As 6 Decisões Mais Importantes que Você Vai Tomar na Sua Vida"

O título desse livro poderia ser
"Seis soluções moralistas para problemas de adolescentes"

O autor é filho de Stephen Covey, o autor do bestseller "Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes". Sean continua a tradição do pai (como boa estratégia de marketing) não apenas no estilo do título de seu bestseller, mas também na forma de resolver as questões do leitor.

Stephen e Sean Covey são membros dos Santos dos Últimos Dias (mórmons) e vivem na capital mundial da igreja: o ultra-conversavador estado teocrático de Utah, EUA. E o conversadorismo moral dessa comunidade é a tônica do livro, que foi escrito para adolescentes.

As 6 decisões do título dizem respeito a 6 problemas éticos dos adolescentes:


1- como orientar os estudos, a vida escolar e acadêmica

2- a relação com os pais

3- como escolher, fazer e manter amigos

4- namoro e sexo

5- dependência de substâncias e outros vícios (alcool, drogas, jogos, etc)

6- auto-estima (como ter e manter)


Sean Covey dá respostas moralistas para essas questões, e isso é o livro.

Ele vende tão bem por causa da tradição e renome da família Covey enquanto autores de bestsellers da auto-ajuda.

Na parte 4, sobre namoro e sexo, por exemplo, ele diz algo como

"Se você acha que fazer sexo vai mudar sua vida, você não está pronto para essa decisão. Se você acha que isso também não vai mudar sua vida, você também não está pronto"

Hmmmm... Entendeu?

Vale mais a pena você conversar com sua avó sobre esses assuntos do que você comprar esse livro...