sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Psicólogos devem ler auto-ajuda?

PRÉVIA: recomendo que você só leia este post se já leu e está bem lembrado do primeiríssimo post deste blog, onde explico o que é auto-ajuda.


Ok, ok. Lá estou eu, Alessandro, psicólogo, na livraria. Minha profissão tem na palavra um instrumento central, talvez o maior de todos, por isso vou muito em livrarias, sempre tenho uma listinha de obras da minha área que preciso e quero ler.

Adivinhem, contudo, qual a primeira prateleira na qual eu sempre vou?

Auto-ajuda!

Claro que eu nunca compro os livros. Hehehehe. Apenas sondo os títulos, os temas, folheio, leio as orelhas, etc.

Apesar de abominar tudo aquilo que ela representa, acho fundamental que os psicólogos estejam por dentro do que rola nesse mercado.

Os motivos são vários:

1) o conjunto desses livros fornece uma radiografia dos problemas atuais. Por exemplo, se muitos casos de anorexia aparecem, do dia pra noite surgem diversos livros de auto-ajuda sobre o tema.

2) os clientes do psicólogo muitas vezes vão chegar até ele com conceitos e idéias que extraíram desses livros, e o psicólogo precisa entender essas bobagens para se comunicar com o cliente

OBS: Isso é especialmente verdade para o psicólogo organizacional !!

3) esses livros representam a mediocridade em termos de tratamento de problemas. Estando por fora deles, você está por fora até mesmo da mediocridade! (É como dizer "Não vejo TV" e em seguida criticar prolixamente a TV, após ter confessado que não sabe quase nada sobre ela).

Mas, voltando a pergunta título deste post: o psicólogo deve ler auto-ajuda?

Minha resposta, enfática: NÃO!

Ele só precisa ler meu Blog. ;-)


Hehehe, falando sério... Quero dizer que precisamos estar antenados com o que rola nesse mercado, mas não devemos estudar esses livros, visto que na verdade não são livros, são produtos. Já temos muitos livros clássicos e atuais de Psicologia de verdade para estudar, e não cabe ficar enfiando tosquice na lista.

A atitude do psicólogo diante da auto-ajuda deve parecer a de um antropólogo diante de uma tribo perigosa: dialogue, sonde, pesquise, mas numa distância saudável e sem se tornar um deles.

Minha recomendação: discuta a auto-ajuda, seus sinais, sua atualidade, suas tendências, seus significados. Mas não mergulhe nela, porque você certamente voltará cheirando mal se o fizer.

Um comentário:

Marcelo Bomfim disse...

Alessandro boa tarde. Cara confesso que depois que li seus comentários e um artigo do Adriano Facioli, fiquei confuso. Não vou negar que já li auto-ajuda e nem que, mesmo temporariamente as leituras de autores como Augusto Cury e Roberto Shinyashki me trouxeram algum benefício. Porém por vários motivos, acredito que a auto-ajuda precisa realmente ser combatida. Primeiro no código de ética que norteia nossa profissão o uso de auto-ajuda infrige os artigos 1 e 38. No site do CRP a psicóloga Ana Stella Álvares Cruz afirma “A procura pela literatura de auto-ajuda e por práticas não-convencionais é determinada pela necessidade de conforto rápido e solução imediata. Estamos na época do imediatismo e do descartável: para satisfazer desejos emergentes, tudo tende a ser consumido, digerido e descartado rapidamente” Isso é verdade. Existe uma metodoglogia que devemos seguir, para que possamos dar contribuições estáveis para à população, com a premissa de uma maior qualidade de vida e promoção de saúde, tudo embasado na ciência. Mas o Cury não é tão ruim assim, se for assim, teremos que bestificar os milhões de pessoas que leram os livros deles. Muitos sabem filtrar e extrair benefícios dessas leituras. Críticar a auto-ajuda é uma coisa, mas jogar no ralo toda as afirmações do Cury, é exagero.