quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Auto-Ajuda ou algo diferente?

Passeando na FNAC de Curitiba me deparei com um balcão de livros classificados como "Vida Prática". Eram obras que se propunham a ser manuais de instruções para cozinhar, servir vinhos, etiqueta, trabalhos com madeira, etc.

Eles eram auto-ajuda? De certa forma sim. Afinal, o leitor aprendia de forma auto-didata a ajudar sua própria vida. Contudo esses livros não eram auto-ajuda no sentido enganador, charlatão e curandeiro do termo.

Me dei conta também que há bestsellers que ensinam coisas práticas, tiradas de fontes científicas e simplificadas para divulgação para leigos. Ou seja, é um livro de divulgação científica, mas o leitor pode sentir que está aprendendo e se auto-ajudando de alguma forma. Um exemplo pode ser os livros de divulgação de Carl Sagan, como "O Mundo Assombrado pelos Demônios", em que ele ensina o leitor a como se proteger da crendice e das enganações pseudo-científicas.

Um outro bom exemplo: "Porque homem jogam e mulheres compram sapatos", que é uma divulgação da Psicologia Evolucionista e o que ela tem a dizer sobre as diferenças entre gêneros. Ele está abarrotado de dados vindos de pesquisa, porém é escrito como um FAQ de formato simples para qualquer leigo entender.

Uma outra obra que vai por esse rumo: "Desvendando a Linguagem Corporal". Apesar do título ele não promete fórmulas mágicas de como fazer "leitura fria" e descobrir segredos alheios pela observação do corpo: apenas expõe correlações entre disposições fisicas e atitudes comportamentais.

Eu diria que dentre os livros de auto-ajuda existe duas categorias não-inclusas que costumam ser alistados junto: os de "Vida Prática" e os de "Divulgação Científica para Leigos". Eles são bem escritos como tratados e não como ensaios, e costumam ter boa referência bibliográfica.

Acredito que os livros dessas duas classes não são auto-ajuda porque não prometem curas ou milagres, e por isso não enganam. De maneira honesta eles declaram: "Trazemos saberes que se você for esperto e praticar podem ajudar você, torná-lo mais habilidoso em determinada área específica, e isso é tudo".

11 comentários:

Bruna disse...

Um comentário sobre "Porque homem jogam e mulheres compram sapatos" - nunca li, então posso estar errada, mas livros com esse tipo de título, e a própria psicologia evolutiva que busca reduzir as diferenças de gênero a uma questão biológica e não abordar o processo cultural de criação dos gêneros com base no sexo de nascimento de uma pessoa (algo que absolutamente não define nada sobre ninguém), e ignora que existe uma opressão hstórica do considerado "gênero feminino" (não vou entrar em detalhes aqui, por que não estou produzindo um texto :p) para mim são equivalentes aos livros de auto-ajuda, no que diz respeio a qualidade literária.

Alessandro Vieira dos Reis disse...

Bruna,

vc devia ter lido o livro para poder critica-lo.

"Por que homens jogam e mulheres compram sapatos" não reduz tudo a uma questão biológica, como vc disse, pq até explica que a evolução humana tem regras especiais por conta da vida em sociedade.

Da mesma forma o livro não ignora a opressão histórica do gênero feminino, como vc disse. Muito pelo contrário. O livro começa explicando a "falácia naturalista", que diz que tudo que é natural é bom, e como ela é usada para justificar a opressão contra mulheres.

Para fechar, o livro "Porque homens jogam..." não precisa ter "qualidade literária", como vc disse, porque não é Literatura (Arte), mas, como eu disse, DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA.

Bruna disse...

Ok, peço desculpas por isso. Mas de certa forma, foi bom, porque fez com que você esclarecesse as questões que estavam me incomodando, então, obrigada. Quando eu disse qualidade literária, não estava me referindo à arte especificamente, mas a qualquer tipo de texto e o fato de ele ter qualidade ou não, mas percebo agora que não me expressei corretamente.

Filipe Marcel disse...

Muito bom esse blog. Eu não tinha visto ainda algum site que tratasse sobre livros como este blog.
Minha principal crítica aos livros de auto-ajuda norte-americanos é a quantidade de texto inútil presente entre os tópicos principais.

Felipe Stephan Lisboa disse...

Parabéns pelo blog, alessandro... Excelente!!! Também sou psicólogo (na verdade recém-psicólogo, formei no final do ano passado)e também tenho um blog (Psicologia dos Psicólogos) em que comento livros e filmes de auto-ajuda, dentre outras coisas... para acessá-lo basta clicar no link http://psicologiadospsicologos.blogspot.com ... ainda estou no começo, mas penso exatamente como você... Em meu blog também pretendo escrever constantemente sobre o tema, que muito me interessa. Penso inclusive em escrever minha tese de mestrado (que farei futuramente) sobre o assunto... Parabéns novamente pela empreitada! Vou ler todo o blog com muito cuidado... abraço

Andarilho disse...

Opa!
Outro livro que incluiria nesta lista de "divulgação científica para leigos" ou "boa auto-ajuda" é "Felicidade Autêntica" do Martin Seligman, que fala de maneira simples e direta sobre as principais descobertas no campo da Psicologia Positiva. Uma excelente introdução ao assunto e uma ótima fonte de idéias para fazer a própria vida melhor.

Anônimo disse...

Gostaria de parabenizar o criador do blog pelo excelente trabalho de analise feito com esses subprodutos da literatura. Como estudante e professor de filosofia, sempre atentei contra os livros de ajuda barata, onde constam conhecimentos banais e meramente mercadológicos. Com suas análises, aposto que minhas aulas serão mais produtivas na hora de implodir as certezas dossupostos livros de auto-ajuda barata.
Muito obrigado pos disponibilizar esse tipo de conteúdo, pois faz tempo que nao vejo muita substancialidade na internet.

Abraços.

Anônimo disse...

"As pernas afastadas tendem a mostrar uma atitude aberta ou dominante, ao passo que as pernas cruzadas, ao negar simbolicamente o acesso aos genitais, exibem uma atitude fechada, defensiva ou submissa"

Pô, Alessandro, você realmente acha que trechos como esse retirado do "Desvendando os segredos da linguagem corporal" têm algum amparo científico?

Alessandro Vieira dos Reis disse...

Oi, Luiz Fernando!

Valeu pelo seu cuidado! De fato, é preciso pensar no amparo cientifico dos dados.

Qto a linguagem corporal, há estudos etologicos e comportamentais sobre isso.

É possivel "ler uma pessoa" pela linguagem corporal, mas isso nao tem 100% de precisão. (Nem os mais modernos detectores de mentira o têm)

Júlio Valério disse...

Alessandro, seu blog é de utilidade pública, tem o senso crítico.
Volte a escrever!
Parabens pelo blog.

Anônimo disse...

Passo aqui para deixar meus parabéns pelo blog, que estou usando para desenvolver o artigo Auto-ajuda na Desciclopédia (sátira da Wikipédia)...