quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Matéria de capa da revista Veja

Eu estava numa padaria, tomando café-da-manhã, e não é que estava sobre a mesa, disponível para folhear, uma edição antiga de Veja cuja reportagem de capa era sobre autoajuda?


Não resisti e peguei para ler. A matéria tem dois méritos: 1) uma boa análise histórica explicando as condições que tornaram possível o surgimento da indústria da autoajuda e 2) os nomes dos principais bestesellers e clássicos da indústria no Brasil.


Este post é sobre o item 1.


Segundo a reportagem, as contingências históricas que explicam o surgimento da autoajuda são:


a) as pessoas foram vivendo com cada vez menos religião, sem consultar líderes espirituais cara-a-cara, como um padre ou pastor. Ao invés disso, foram lendo por conta própria livros de autoajuda, ou mesmo a Bíblia como sendo um livro desse gênero


b) mulheres passaram a trabalhar fora de casa, eliminando a figura da "comadre". Isto é, ao invés das mulheres conversarem umas com as outras sobre questões da vida, passaram a ler livros de autoajuda para obter algum tipo de apoio


c) famílias foram se tornando menores e mononucleares (pais e filhos), eliminando a figura do vovô e da vovó sábios que nos dão conselhos


d) a anomia que as pessoas experimentam nos populosos mas solitários centros urbanos


e) o aumento do número de divórcios, gerando mais e mais problemas familiares


f) vida moderna agitada e competitiva, demandando mais e mais por "instruções para o sucesso pessoal".


Boa análise. Não completa, mas um ótimo ponto-de-partida para a compreensão socio-histórica da autoajuda.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Lousie Hay - "Se eu consegui, você também consegue"



Lousie Hay, norte-americana, é uma bem-sucedida autora de bestsellers de autoajuda.



Ela teve câncer, se dedicou numa jornada de cura médica e terapias alternativas (com Yoga, principalmente) e zaz!, curou-se. Lousie passou a explorar sua própria experiência com a cura do câncer em seus livros, tomando-se como exemplo.

Não nego que exista algo de muito bonito nessa atitude, no sentido de encorajar pessoas que estão sofrendo a seguir um modelo de sucesso. O problema é a tônica dessa mensagem no livros de Lousie Hay. A autora dá a entender que tudo é uma questão de pensamento positivo, que a pessoa só precisa ter a disposição correta e milagres irão acontecer!

Ok, Lousie, a sua doença foi superada. Fico feliz por você. Porém há uma certa taxa natural de remissão de câncer, até mesmo em estados avançados. Mas nem todas as pessoas são contempladas por essa loteria biológica.



Lembro das multidões que rezam pedindo a cura do câncer. Vez por outra uma pessoa consegue, e todos os holofotes são focados nela. Curiosamente, o número desses felizardos normalmente bate com as taxas de remissão espontânea (fenômeno natural), mas isso não desanima os que rezam por milagres. 


Lousie Hay também nos faz lembrar que a autoajuda é uma cria da cultura norte-americana. Nos EUA, o correto é seguir pessoas que foram bem-sucedidas em suas vidas pessoais. Só se vota em políticos que foram "homens e mulheres de sucesso" antes da política (Ótimo hábito!). Mas, da mesma forma, se compra livros de auto-ajuda de pessoas que antes de entrarem nesse ramo literário, tinham um histórico de sucesso e transformação pessoal.


Este post foi sobre uma das maiores crueldades veladas da autoajuda: a de vender a idéia de "Se eu fiz, você também faz, basta querer". Ora, cada caso é um caso, não?